07 dezembro 2006

Nighty Shiny Something

Sem mais que um grande amor, sem mais que todo o bem-querer; de puras intenções e doces sentimentos; com um coração cheio de vontade, com um raciocínio apagado. Peito feito, olhar brilhante. E o teu cheiro nos lábios.

Estarei sempre aí. Sempre que a dor vier e as lágrimas te deixarem só. Sempre que a solidão te preencher. Quando o sol não te quiser aquecer. Quando o espelho te virar as costas e franzir o nariz. Se o escuro se mostrar cativante. Se a tristeza parecer constante. No pior dia, na pior hora. Nos dia menos maus, nos assim-assim, nos bons e nos muitos bons. Mesmo então. Mesmo depois.

Ainda que não me chames. Ainda que não peças. Ainda que não me vejas. Ainda que não me consigas sentir. Ainda que não queiras falar. Ainda que não queiras chorar. Ainda que...

Serei o teu nighty shiny something.

Refeição completa

Os poetas falam do encantamento e da beleza. Lanches debaixo de árvores frutadas de profundos sentimentos. A prosa narra enredos difíceis, obstáculos inultrapassáveis conquistados pelo romance e pela pureza do amor. As enciclopédias remetem-se à fleumática factualidade. Os moços conversam sobre corpos, raras vezes emoções; elas discutem corpos e emoções.

Foi assim que, sem advertência, descobri o especial sabor de uma refeição a dois. De partilhar aquele momento em que nos construímos, no sentido mais denotativo. Esta doce surpresa que tenho repetido sempre que nas horas sacralizadas me junto a ti, para partilhar tempo e comida: amor em garfadas bem acompanhadas. É estranhamento difícil de explicar e perceber, esta harmonia que nos une quando nos separa uma mesa. Um ritmo que se acompanha, palavras que se trocam, olhares reflectidos entre doces e amargos, temperos e bebidas. Na verdade, não sei de onde nasce. O amor também é feito do que não se explica.

30 novembro 2006

Aqui comigo

Doem-me partes de mim que eu nunca antes sentira. A mágoa entranhou-se em mim com as suas raízes negras perfurantes e dedilha agora nervos profundos e esquecidos. De histórias antigas e palavras mal medidas. De actos irreflectidos, de conselhos que nos afastavam e de destinos que nos tolheriam. Este fel borbulhante e espesso escorre-me das feridas, em tons de negro e lustre. A dor tem faces bem piores que a mera dor. Tem a dor que não é dor, mas memória de dor. E essa dor velha hoje é dor também.

E hoje não te quero ver, nem ouvir. Hoje não te quero. Não quero precisar de ti. Não quero as tuas palavras, os teus sons. Não quero nada de ti, hoje. Desde que estejas aqui comigo.

23 novembro 2006

Era um quadro

Era um quadro, onde ela estava à lareira quente de um Janeiro antigo, com brasas murmurando uma velha melodia, envolvente e distante. À distância de uma parede vertical. Intransponível para tudo que não o olhar...

Egoísta perpendicular esta, do olhar e do quadro. Que se deixa criar e sentir, apenas para maior ensejar. Sem permissão de tocar. Sem possibilidade real. Sem amar.

O peso do quadro cedeu nas minhas mãos e tombou sobre o cavalete, o óleo escandalizado, os pinceis mutuamente se excomungando. Obliquas decidem-se, não se choram. Decidem-se com mãos sujas de tinta e roupa estragada. Com noites mal dormidas e madrugadas trabalhadas. E ali, onde eu me faltava, entre ela e o carvão ardente, me instalei de novas e vivas cores. E até na tela fomos felizes.

16 novembro 2006

...

É tempo demais. Preciso da tua pelo na ponta dos meus dedos. O calor escaldante do teu corpo nu. As marcas das minhas unhas nas tuas costas, os meus dentes cerrados nas tuas coxas, as tuas lágrimas na minha boca, o teu cabelo a escorrer no meu peito, as tuas mãos coladas a mim, os meus braços na tua cintura, o teu peito nas minhas palmas, as minhas pernas e as tuas, o teu corpo em volta do meu, o teu cheiro na minha língua, o nosso suor, o nosso amor… a tua voz… Quero sentir as tuas palavras no meu rosto, murmuradas, gemidas, sussurradas de encontro às minhas. Quero sentir o teu prazer. Quero sentir-te. Quero-te a ti.

09 novembro 2006

Poema

A vida rimou-me contigo sem métrica regular, nem estilo definido. Numa qualquer Primavera buscou e desejou a inspiração, pedindo-a à praia, talvez num inocente flirt com o mar, numa conversa de serra e montanha. Mas a musa nem levantou os olhos do seu doce sonho, suave dormir. Ao primeiro verso branco o coração palpitou, o olhar brilhou, o sentimento chegou. A paixão invadiu aquela praia como tirando desforço de toda a injustiça deste Mundo… e de muitos outros. Selvagem, errática, destruidora… densa e sem leito. Arrastou-nos aos dois mar adentro, em êxtase, em pânico, presos um ao outro – com garras de existir apenas um nós, não dois. Ninguém assim ama impunemente, soprava o vento.

O Sol brilhou abrasador e secou-nos a pele deixando apenas sal branco e reflexos de luz. Serenou o vento no passar da quadra, no fim do soneto… e nós ali ficámos. Na linha sangrenta que nos atropelou, recolhendo restos, chorando memórias, mas juntos. Uma paixão assim, só se desperdiça por um amor maior.

02 novembro 2006

Bela

Tinha olhos esverdeados, esquivos e desconcertantes. Da primeira vez iludiu-me, quase nem a percebi. Mas logo em seguida individualizou-se. Com nitidez. Pronunciei o gesto, repousei o olhar, esqueci os modos. E ela de imediato se apercebeu. E uma ansiedade se instalou. Eu por me ter deixado apanhar. Ela por ter sido apanhada.

Nesse dia ainda partimos sem nos conhecer. Mas tínhamo-nos reconhecido.

25 outubro 2006

Porque a vida é curta de mais

Sei que estás aí. Ausente e distante. Longinquamente sem mim. E tu, sabes que estou aqui, igualmente sem ti.

Sinto a tua respiração pesada, os olhos molhados, as olheiras fundas. E tu sentes a mim. Sinto uma dor estacada no peito, imobilizando-o, puxando o ar a cada sopro, expirando quando eu inspiro. E cravando-se em cada respiração… E choramos, tu aí, e eu aqui.

E depois da noite vem outro dia, apenas porque o tempo não pára nunca. E quando a embriaguês da dor começa a sumir-se, escorrendo o escuro sentimento digerido pelas entranhas encrespadas… um brilhar luzidio recomeça. Reconheço-o como a um velho amigo que regressa a casa. A paixão aturdida, entrincheirou-se. O meu olhar magoado, embruxado, olvidou-a do campo de visão. Mas o amor não morre. E não recomeça, apenas ressurge. Como o destino.

E então olho de novo para ti. E começo a caminhar. A correr. Na verdade, voo. Sinto ainda uma lágrima ao canto do olho, uma cicatriz no coração. Mas acarinho-as e celebro-as. São a nossa marca. E simplesmente… não há mais tempo para gastar sem ti.

18 outubro 2006

Amanhã vou encher-te de beijos floridos

Ofereci-te rosas quando jantámos a primeira vez. Banhei-te em pétalas vermelhas a primeira noite que passaste em minha casa. Quando fazes anos levo-te sempre uma rosa apaixonada. Dou-te flores silvestres a 20 de Março. Quase sempre… Mas comemoro sempre o 8 de Março com uma gerbéria colorida de vida. E lírios laranja salmão a 14 de Fevereiro. E quando casarmos vou plantar uma hera que nos abrace e brincos de princesa para ti. Para te elogiar sem que cores envergonhada. E duas amendoeiras.

Tulipas, costumo guardar para dias de desculpas… de rosa escuro. Nunca te pedi desculpas sem duas dúzias por testemunha de bom carácter... E perfumo de papoilas os quartos em que te seduzo.

Narcisos, gardénias, os belos jasmins, gerânios, dálias e amores-perfeitos. E tantas mais. Guardei para te dar amanhã.

11 outubro 2006

À beira-estrada

Na pele um travo frutuoso, de obra da terra, da época. Macios os beijos, deslumbrantes na entrega. As minhas mãos que te passeiam, como se te definissem a cintura, moldassem o ventre. E sinto a tua respiração acelerar. Sinto o choque, do frio que me habita, tocar o calor do teu corpo. Sinto os músculos contraírem-se, a pele arrepanhar-se, a penugem eriçar-se. E depois sinto o teu calor a invadir a minha mão. Simbiose. Sinto a harmonia celsia, sinto que lentamente já não sentes frio. Sinto que envolves a minha mão. Sinto que me sentes e já não a temperatura. E que não te toco, nem acaricio, nem afago… porque já não há eu e tu. Apenas um corpo que se beija à beira-estrada. 

04 outubro 2006

Concede-me a honra... ?

E se eu te convidar para dançar? Como se fazia no tempo dos romances de príncipes e amores eternos, «A menina concede-me a honra desta dança?». E olhando-me de alto a baixo a tua irmã replicará o meu atrevimento. «O insolente!». Porque nem te conheço. Porque não a convidei a ela que é mais velha…

Mas a verdade é que te conheço melhor que a mim mesmo. Nesse azul em que te mostras mais que ao padre a confissão. Nesse azul te vi, me perdi, te conheci, nos sonhei…

A recusa da tua irmã, tu contentaste num sorriso mal escondido. Num agrado negado naquela noite por respeito fraterno… Eu espero. Dançaremos mais tarde.

28 setembro 2006

Triste

Hoje acordei cedo, com um despertador rabugento. Arrastei-me pelo trânsito medonho até uma reunião decisiva, final e sem sentido. Penso ter almoçado, embora não tenha qualquer recordação dessa hora milenar que se demorou, insonsa, como as outras vinte e três. De tarde despachei processo, estudei as últimas análises e comecei a estabelecer alguns novos protocolos. Apanhei menos trânsito à noite. E jantei peixe espada. Grelhado. Comi um gelado enquanto via as notícias. Acabei de ler o romance que tinha na mesa de cabeceira antes de adormecer. E o dia passou…

Sem ti.

21 setembro 2006

Enquanto aqui dormes

No nosso leito adormeces na segurança do meu abraço, no deleite do meu olhar. Velo o teu rosto, teus olhos fechados de princesa, teus lábios que me amam, teus cabelos negros, luzidios, adormecidos. Adormeço e sonho contigo. Acordo e amo-te de novo até à exaustão. Até me pedires para dormir. Até te pedir para parares.

Bela que dormes. E bela quando acordas. Mas bela quando sonhas. Quando tudo é paz e silêncio e descansas de tanto me amar.

14 setembro 2006

Beijo

Imbuída da aurora, os longos cabelos deliciosamente acariciando a pele dos ombros. Loiros, belos, lisos, calmos. Um olhar que não olha mas puxa. Puxa-me a alma, aniquila-me o corpo. O pescoço, as mãos, o colo. Diva renascentista, ideia platónica de mulher. Vejo-te, mas não te creio. Palavras são epítetos… quando mesmo meus olhos não alcançam a plenitude de tamanha beleza.

Mas de tudo, na verdade, em nada detenho atenção. Fogo maior me consome. Cativeiro muito mais inescalável me cerca sem qualquer misericórdia. Desde que contemplei aquela boca, aqueles lábios. Par ondulante cor de sangue. Garrido. Tocante. Daqui já se sente o seu toque, quente, levemente humedecido, quase aquoso, pronto a transbordar-se nessa língua saborosa que escondes mas se advinha. Se pressente. Se sente já. Envolta na minha enquanto exploro carnalmente cada pedaço desse vermelho que me morde… Na distância do olhar que não permite, mas obriga.

07 setembro 2006

Big Bang

Ainda não te conhecia, mas já te sabia minha. Com a certeza de quem entrega a alma ao Infinito. Com a confiança entregue ao Absoluto. A convicção que só o espírito pode agrilhoar.

Conquistaste-me antes de me encontrares. Nunca fui seduzido. Nunca me encantei ou apaixonei. Amava-te desde que me conhecia. Quando o primeiro sentimento se formou, abrindo espaço para que um coração nascesse, não era mais que o meu primeiro pedaço de ti. E amei-te desde sempre. Desde o início. Nunca houve diferentes fases. Retumbante ou paulatina evolução. Apenas um instante. E de onde não havia nada, surgiu tudo.

E quando te vi pela primeira vez foi dor que senti. Dor, porque te amava ainda mais… e não cabia no peito de um homem amor maior.

31 agosto 2006

Neste instante

Ama-me. Só hoje. Só agora. Aqui. A mim.

Beija-me com sofreguidão. Pecaminosamente. Beija-me o interior do lábio superior com o interior do teu lábio superior. Dizem que nada pode ser mais excitante… Massaja-me com a tua língua de sabor apimentado. Os lábios, as faces… o pescoço. Sente o respirar da minha pele nos teus lábios. Levemente, tão levemente… como se me sentisses no extremo mais afastado da minha pele. Desfigura-me com beijos. Desenha-me o rosto, constrói-me a face, sublinha-me o perfil… Fecha os olhos e deixa-me respirar o teu ar, como força de vida, elixir vital.

Diz que me amas. Domina-me de paixão como as sereias a Ulisses. Entranha a tua voz no meu corpo. Seduz-me murmurando, soprando o meu nome entre os meus cabelos. Respira o meu corpo, sorve o meu cheiro, saboreia a minha língua como um rebuçado e toca-me levemente os lábios com a língua.

E não pares até eu me cansar de te sentir.

24 agosto 2006

A melodia do teu nome...

Enquanto estás aqui, pele contra pele, enquanto te sinto o corpo e te roubo suspiros de felicidade, o meu espírito navega longe. Por outras cidades, de outros países, de mundos distantes. E nesses sítios baldios e belos, longe do teu cheiro de lápis-lazúli, dos teus cabelos de paixão, sonho acordado. E dentro do sonho é contigo que sonho…

E se mesmo dentro do véu onírico, houver um novo sonho a ser sonhado, serás sempre tu. Será sempre contigo.

Estarei longe daqui. Estarei longe até de mim. Mas o meu coração só trauteia a tua melodia…

17 agosto 2006

Vamos fugir?

Eu prometo que te farei feliz e tu prometes ficar feliz. Levamos algum dinheiro, alguma comida, alguma roupa… só para que os invejosos não se apercebam que o nosso amor é coisa maior e alimenta-nos alma e corpo, cobre-nos pecados e vergonhas.

À hora combinada eu te esperarei atrás da Igreja e tu chegarás atrasada, trazendo no rosto o meu peito desesperado. Inquieto e inseguro. Mas nunca duvidoso… Aparecerá um cavalo branco pouco depois de sairmos da cidade e cavalgaremos toda a noite até o cansaço se apoderar da montada.

Ouviremos histórias que contam as lavadeiras sobre o casal de amantes que é procurado por toda a parte. Veremos as barreiras nas estradas, ouviremos os cães, esconder-nos-emos dos céus indiscretas…

Ao fim de dias de caminho, e noites de fadiga, encontraremos uma colina radiante, um lugar esplendoroso, um pinhal por perto, o mar ao fundo, uma praia, e um maravilhoso pôr-do-sol todas as noites.

10 agosto 2006

Posso convidar-te para dançar?

Eu avanço um verso, retruco um sorriso. Dou dois passos de prosa e acabo o parágrafo.

Tu sorris, primeiro em terceto, logo avanças o quarteto, e concedes-me o soneto. Às minhas perguntas, respondes com mesuras, os meus avanços recebem perfeitos recuos.

A coreografia segue a mímica das sílabas, pequenas, grandes, espaços… O ritmo acalenta o gesto, a pontuação. Conduzo-te com graça, com eloquência, e quem nos vê só percebe um par.
Escrevo-te uma carta, improviso uma assinatura e só no fim te envio um beijo. Dançamos até acabar a tinta, o papel se enrugar em tempo que não sentimos passar. Nas linhas onde caligrafámos melodias apaixonadas, ouvindo harmonias famosas e eternas, apenas ficámos tu e eu.

03 agosto 2006

A explicação

Perguntaste-me ontem como sei que te amo. Eu sorri.

Consigo sentir o meu coração a bater cada vez que te aproximas de mim. A acelerar… A ultrapassar os segundos do relógio… A respiração que aparece onde andas havia apenas o movimento pulmonar instintivo. E outra e outra vez… Por mais que ele bata, por mais que eles se expandam e se contraiam, não chegam a alcançar a líder desta eterna maratona. O meu pensamento, ele flecte incessantemente para ti. Sem intermitências. Sem pausas. Sem momentos de inflexão.

É o teu pensamento que me acorda e é o teu pensamento que esboça um sorriso e me levanta pela manhã. Quando não estás lá, é ainda contigo que converso enquanto faço o pequeno-almoço e é a ti que leio as notícias do jornal da manhã. É para ti que escolha a roupa com que vou trabalhar. É para que te orgulhes de mim que sou um cavalheiro no metro e na camioneta. É para poder ter uma vida contigo que me esforço um pouco mais no trabalho. É, de certo, a pensar em ti que te ligo a combinar o almoço. É com as tuas asas que voo escadas abaixo e direito ao pequeno restaurante de esquina em que almoçamos cúmplices e apaixonados. É a pensar que te reverei mais tarde que regresso ao trabalho. É contigo que janto, ainda quando não estás lá. É a ti que ligo quando preciso de partilhar alguma coisa, tirar uma dúvida existencial, pedir um pouco de incentivo, ou simplesmente ouvir de novo a tua voz. É contigo que saio noite após noite, para dançar, cantar, ver as estrelas, ir ao cinema, ou seja o que for. É a ti que amo noite após noite. E, ainda quando não adormeces nos meus braços, é a ti que boa noite pela última vez antes de adormecer. E és tu que me embalas para o sono e me adoças os sonhos.

É assim que sei.

27 julho 2006

Só tu

Nunca tenho vontade de te escrever. É sempre a esforço que a tinta negra invade o ecrã alvo e luminoso e lhe escurece as primeiras letras, as primeiras palavras. As frases, descaroço-as a pulso, e agrilhoo-as ao texto, sob pena de me reentrarem pelos poros e se reintegrarem no seu lugar devido. Na verdade, escrever-te é um suplício que me corrói como veneno, sulfúrico, gangrena, trespassando-me as veias e derretendo-me a pele, na iminência sempre ausente da morte. Na companhia da dor. Da agonia. Do delírio.

Nas palavras não vai o meu beijo.
Nas palavras não vai o meu olhar.
Nas palavras não vai o meu cheiro.
Nas palavras não vai o meu abraço.
Nas palavras não vai o meu desejo.
Nas palavras não vai o meu amar.

Na resposta não vens tu.

20 julho 2006

Noites de amor

Foi sempre na areia da praia que te amei. No mar azul, na areia dourada… No luar que nos chamava, na penumbra que nos escondia. As estrelas que nos espreitavam, as ondas que nos acolhiam. Era ainda antes da tarde partir, quando o sol já queria desaparecer e as crianças dormiam nos bancos dos carros, que as famílias conduziam para casa. Os cafés começavam a sua metamorfose de esplanadas à beira mar em bares de praia.

E nós descíamos a escadas de pedra gasta, uma vezes tropeçando outras correndo, de mãos dadas (lembro-me que corria à tua frente e te puxava e tu gritavas e dizias que caías e eu abraçava-te com uma força excessiva e te dizia que nunca te deixaria cair!), pés descalços… tu te sandálias na mão, eu agarrando sapatos meias, gravatas, a toalha, por vezes o blazer… Às primeiras gotas de sal no rosto largávamos tudo pela areia e corríamos ainda mais, ao reencontro do azul escuro, do cheiro da areia molhada.

Tu molhavas os pés e chamavas-me para água que a medo eu deixava que me gelasse os ossos… Depois queixava-me do frio, rabujava e, sempre, sempre com essa mesma desculpa, pegava-te ao colo e levava-te para junto dos casacos, dos óculos escuros, das malas, das toalhas, da garrafa de vinho de meio litro e deitava-me contigo no intervalo que as dunas escondiam. Servia-te Monte Velho dos meus lábios e dizia que te amava mais que a vida.

E lembro-me que não fazíamos amor porque havia sempre mais alguém na praia… Mas lembro-me que nos amávamo-nos até ao amanhecer.

13 julho 2006

...amo-te...