07 fevereiro 2016

Há uma beleza na indefinição da chama. Na sobreposição de cores que misturadas não gozam de nome próprio. Nas formas hesitantes e vibrantes que queimam sem tocar. É intrigante ver o que tão dificilmente as palavras alcançam e ainda mais, senti-lo belo. Saber para dentro, como quem quase cora e logo resguarda a doce partilha de ser seduzido pelo que não se consegue dizer o que é.

Assim são os olhos da Joana. Olhos de Outono começado, ainda verdes de Verão, já castanhos de Inverno. Assim é o seu estar, de sorriso entreaberto e desarmante posto nas palavras sérias e profissionais. Beleza, mas beleza sem explicação.

21 março 2009

O caminho era suposto ser longo. A espera, as paragens à beira estrada, o suave murmurar do começo de viagem. E, no entanto, olhando o mapa, vejo que estou a meio caminho do fim, sem ter viajado… sem me ter mexido. Onde passei o sinal?, onde omiti a curva?, onde descruzei o destino?...

E tu estás aqui, mas de malas prontas. Tal como sempre esperei, partilhamos o caminho. Tal como combinei, encontrei-te por acaso. E, por ironia, coincidência, ou simplesmente porque não há qualquer razão, a tua próxima cidade não é a minha. A tua viagem exige que eu não seja companhia.

E eu sorrio enquanto me despeço desejando felicidades e até a próxima. Sabendo que não terei nenhuma das três.

24 janeiro 2009

Meu amor,

Pára. Não mais, não mais. Protege-me da tua ausência. Mata esta sofreguidão que existe em mim. De ti. Não me digas mais beijos, não me escrevas paixão. Sai detrás desses envelopes que perfumas de ti e que, quando abertos, nunca te trazem. Larga essa coisa a que chamam existir e vem viver. Traz-te e plantaremos o nosso amor aqui. Ali. Por todo o lado. E a felicidade brotará de nós como flocos de neve na serra sonhada.

Para sempre nós,

03 janeiro 2009

Meu amor,

Existe uma subtil diferença entre desejar os teus beijos e desejar que mos queiras dar. Eu poderia desistir dos teus beijos. Por um momento, para que pudéssemos os dois descansar uma noite abraçados; por um momento maior, para que pudesses ir cumprir obrigações longe de mim; por um momento verdadeiramente grande, por uma viagem, peça do destino. Até por um momento sem fim... por razões dessas comezinhas como a saúde ou a tua felicidade. Desejo os teus beijos, mas não muito.

O que verdadeiramente me mata é tu não quereres dar-mos.

Para sempre nós,

27 dezembro 2008

Meu amor,

Às vezes tenho pesadelos contigo. Apareces e dizes que me amas. Beijas-me realmente nos meus verdadeiros lábios e sinto o teu corpo a abraçar o meu. E descubro o pesadelo quando por fim acordo… só.

Para sempre nós,

20 dezembro 2008

Meu amor,

Sabes... às vezes queria correr atrás de ti outra vez. Como se eu fosse um romântico incurável, tu o amor da minha vida, e nós o verdadeiro romance - sem editora, sem caneta, sem título. Queria sonhar. Fingir sentir. Algumas vezes, até queria sentir.

Os "se"'s nunca me atormentaram. Nem os possíveis. Ou as oportunidades perdidas. Quem arrasta sonoras correntes em tectos de madeira nos meus pesadelos és apenas tu. Quererias ser essa história de amor? E não querendo, acabarias por encarnar a personagem? Tomarias por tua a minha persistência?

Lembro-me de tudo o que partilhaste dizendo-me que nunca antes. Lembro-me de ser único. Lembro-me de te olhar e ver-te mesmo. Como és. Lembro-me de hesitar e de achar que podia estar enganado. Lembro-me de me mandares embora. Lembro-me de não te crer. Lembro-me de partir.

Quererias ser procurada? Quererias ser amada?

Os beijos. O suor. As lágrimas. Também me lembro disso. E os prazeres. Os murmúrios. As palavras mal desenhadas ao ouvido. Isso também. Mas não me lembro de saber que era para sempre. Não me lembro do ferrete me queimar a pele. Mas ainda assim, às vezes ele está cá.

Para sempre nós,

25 outubro 2008



Meu amor,

Fartei-me desta paixão por ti. É néscia, vil e biltre. É um muco viscoso da vida que a Igreja condenou e o ser humano abandonou. Despejei-a num buraco fundo. Caiu e morreu. É o fim.

Não te espero mais. Amo-te.
Não te sofro mais. Amo-te.
Não te disto mais. Amo-te.

Não mais estarei triste por estares aí e eu aqui. No amor somos apenas nós. E nós não podemos estar aí e aqui. Nós não podemos estar tristes neste coração e não estar nesse. Nós apenas podemos amar-nos. Nós só podemos estar felizes por sermos um nós. Por esse coração bater por este, e este por esse. E os beijos que esperam esses lábios daí, são os nossos beijos. Os abraços, os nossos abraços. Porque de entre nós, temos só um amor.

Para sempre nós,