25 outubro 2006

Porque a vida é curta de mais

Sei que estás aí. Ausente e distante. Longinquamente sem mim. E tu, sabes que estou aqui, igualmente sem ti.

Sinto a tua respiração pesada, os olhos molhados, as olheiras fundas. E tu sentes a mim. Sinto uma dor estacada no peito, imobilizando-o, puxando o ar a cada sopro, expirando quando eu inspiro. E cravando-se em cada respiração… E choramos, tu aí, e eu aqui.

E depois da noite vem outro dia, apenas porque o tempo não pára nunca. E quando a embriaguês da dor começa a sumir-se, escorrendo o escuro sentimento digerido pelas entranhas encrespadas… um brilhar luzidio recomeça. Reconheço-o como a um velho amigo que regressa a casa. A paixão aturdida, entrincheirou-se. O meu olhar magoado, embruxado, olvidou-a do campo de visão. Mas o amor não morre. E não recomeça, apenas ressurge. Como o destino.

E então olho de novo para ti. E começo a caminhar. A correr. Na verdade, voo. Sinto ainda uma lágrima ao canto do olho, uma cicatriz no coração. Mas acarinho-as e celebro-as. São a nossa marca. E simplesmente… não há mais tempo para gastar sem ti.

18 outubro 2006

Amanhã vou encher-te de beijos floridos

Ofereci-te rosas quando jantámos a primeira vez. Banhei-te em pétalas vermelhas a primeira noite que passaste em minha casa. Quando fazes anos levo-te sempre uma rosa apaixonada. Dou-te flores silvestres a 20 de Março. Quase sempre… Mas comemoro sempre o 8 de Março com uma gerbéria colorida de vida. E lírios laranja salmão a 14 de Fevereiro. E quando casarmos vou plantar uma hera que nos abrace e brincos de princesa para ti. Para te elogiar sem que cores envergonhada. E duas amendoeiras.

Tulipas, costumo guardar para dias de desculpas… de rosa escuro. Nunca te pedi desculpas sem duas dúzias por testemunha de bom carácter... E perfumo de papoilas os quartos em que te seduzo.

Narcisos, gardénias, os belos jasmins, gerânios, dálias e amores-perfeitos. E tantas mais. Guardei para te dar amanhã.

11 outubro 2006

À beira-estrada

Na pele um travo frutuoso, de obra da terra, da época. Macios os beijos, deslumbrantes na entrega. As minhas mãos que te passeiam, como se te definissem a cintura, moldassem o ventre. E sinto a tua respiração acelerar. Sinto o choque, do frio que me habita, tocar o calor do teu corpo. Sinto os músculos contraírem-se, a pele arrepanhar-se, a penugem eriçar-se. E depois sinto o teu calor a invadir a minha mão. Simbiose. Sinto a harmonia celsia, sinto que lentamente já não sentes frio. Sinto que envolves a minha mão. Sinto que me sentes e já não a temperatura. E que não te toco, nem acaricio, nem afago… porque já não há eu e tu. Apenas um corpo que se beija à beira-estrada. 

04 outubro 2006

Concede-me a honra... ?

E se eu te convidar para dançar? Como se fazia no tempo dos romances de príncipes e amores eternos, «A menina concede-me a honra desta dança?». E olhando-me de alto a baixo a tua irmã replicará o meu atrevimento. «O insolente!». Porque nem te conheço. Porque não a convidei a ela que é mais velha…

Mas a verdade é que te conheço melhor que a mim mesmo. Nesse azul em que te mostras mais que ao padre a confissão. Nesse azul te vi, me perdi, te conheci, nos sonhei…

A recusa da tua irmã, tu contentaste num sorriso mal escondido. Num agrado negado naquela noite por respeito fraterno… Eu espero. Dançaremos mais tarde.