14 setembro 2006

Beijo

Imbuída da aurora, os longos cabelos deliciosamente acariciando a pele dos ombros. Loiros, belos, lisos, calmos. Um olhar que não olha mas puxa. Puxa-me a alma, aniquila-me o corpo. O pescoço, as mãos, o colo. Diva renascentista, ideia platónica de mulher. Vejo-te, mas não te creio. Palavras são epítetos… quando mesmo meus olhos não alcançam a plenitude de tamanha beleza.

Mas de tudo, na verdade, em nada detenho atenção. Fogo maior me consome. Cativeiro muito mais inescalável me cerca sem qualquer misericórdia. Desde que contemplei aquela boca, aqueles lábios. Par ondulante cor de sangue. Garrido. Tocante. Daqui já se sente o seu toque, quente, levemente humedecido, quase aquoso, pronto a transbordar-se nessa língua saborosa que escondes mas se advinha. Se pressente. Se sente já. Envolta na minha enquanto exploro carnalmente cada pedaço desse vermelho que me morde… Na distância do olhar que não permite, mas obriga.