26 julho 2007

Costas com costas

Era amor. Foi amor desde o início. Daquela apresentação tímida de fugida. Da segunda apresentação, formal, comedida e separada por uma enorme mesa. Dos olhares curiosos, das palavras que eu ia atrapalhando nos lábios. Das conversas soltas, agarradas a gargalhadas. Daquele convite, daquela noite. Das promessas que fiz e tu ouviste. Das juras que me fizeste. Beijos... sim, também foi amor nos beijos. Nos lábios mordidos e nos caminhos que namorámos. Nos jantares e nos almoços, nas refeições que não fizemos, nas noites de música e dança estridente.

Foi só aquele amor que soubemos amar. Amor duro. Amor amargo e destrutivo. Amor que não podíamos exigir frente a frente, nem lado a lado. Porque era demasiado. Porque era gentil como o fogo, doce como a pedra. E quebrou-nos outra e outra vez. Sem pudor. Sem pena. Sem a clemente rudeza do profissional. Até percebermos que só nos conseguíamos amar de outro modo. Do nosso modo. Triste e deturpado. Violentamente errado. Bruto, sem um olhar. Estúpida para o Mundo. Mas foi o nosso modo de amar. E era amor.