De remota origem, entre músculos e dor, trepa o peito à força de uma mágoa constringente que a empurra. Contra suspiros de vazio. E o peso. Um peso atlante.
Na garganta estaca-se e finge que desce. Engole-se e bebe-se, mas na verdade não mexe. Sobe aos olhos sem barulho. Chega e soluça. De um soluço profundo, de remota origem.
O olho pisco, ela verte. Leva consigo um pouco de alma, um pouco de dor. Apenas uma lágrima de dor. Única que partilha a tua tristeza. Pudesse eu descer também. Levar comigo as tuas palavras de mágoa e terror. Largá-las na torrente de um choro infindável, abruptamente nas bochechas coradas, nos lábios doridos. E lentamente, ir fechando a torneira, secando os teus olhos. Deixar-me, por fim, igualmente escorregar ao lado do teu nariz, na tua boca.
Eu seria mais lágrima.
08 novembro 2007
01 novembro 2007
Lágrima
Um líquido insípido e incolor, acrescido de cloreto de sódio. Um sentimento de perda e vazio, acrescido de dor psicossomática. Uma transparência tal que não me permites vê-la. Um sentimento tal que não te permites mostrá-lo.
Deixa-me chorar contigo, escorrer contigo nessa doce face de menina magoada. Deixa-me partilhar da tua mágoa, esborratá-la com um lenço branco. Deixa-me sofrer metade da tua dor, nos meus braços, nos meus ouvidos, na minha presença... A distância da tua tristeza é tortura sempre maior e mais desabrida que a infelicidade com que me consigas contagiar.
Subscrever:
Mensagens (Atom)