Nunca tenho vontade de te escrever. É sempre a esforço que a tinta negra invade o ecrã alvo e luminoso e lhe escurece as primeiras letras, as primeiras palavras. As frases, descaroço-as a pulso, e agrilhoo-as ao texto, sob pena de me reentrarem pelos poros e se reintegrarem no seu lugar devido. Na verdade, escrever-te é um suplício que me corrói como veneno, sulfúrico, gangrena, trespassando-me as veias e derretendo-me a pele, na iminência sempre ausente da morte. Na companhia da dor. Da agonia. Do delírio.
Nas palavras não vai o meu beijo.
Nas palavras não vai o meu olhar.
Nas palavras não vai o meu cheiro.
Nas palavras não vai o meu abraço.
Nas palavras não vai o meu desejo.
Nas palavras não vai o meu amar.
Na resposta não vens tu.
20 julho 2006
Noites de amor
Foi sempre na areia da praia que te amei. No mar azul, na areia dourada… No luar que nos chamava, na penumbra que nos escondia. As estrelas que nos espreitavam, as ondas que nos acolhiam. Era ainda antes da tarde partir, quando o sol já queria desaparecer e as crianças dormiam nos bancos dos carros, que as famílias conduziam para casa. Os cafés começavam a sua metamorfose de esplanadas à beira mar em bares de praia.
E nós descíamos a escadas de pedra gasta, uma vezes tropeçando outras correndo, de mãos dadas (lembro-me que corria à tua frente e te puxava e tu gritavas e dizias que caías e eu abraçava-te com uma força excessiva e te dizia que nunca te deixaria cair!), pés descalços… tu te sandálias na mão, eu agarrando sapatos meias, gravatas, a toalha, por vezes o blazer… Às primeiras gotas de sal no rosto largávamos tudo pela areia e corríamos ainda mais, ao reencontro do azul escuro, do cheiro da areia molhada.
Tu molhavas os pés e chamavas-me para água que a medo eu deixava que me gelasse os ossos… Depois queixava-me do frio, rabujava e, sempre, sempre com essa mesma desculpa, pegava-te ao colo e levava-te para junto dos casacos, dos óculos escuros, das malas, das toalhas, da garrafa de vinho de meio litro e deitava-me contigo no intervalo que as dunas escondiam. Servia-te Monte Velho dos meus lábios e dizia que te amava mais que a vida.
E lembro-me que não fazíamos amor porque havia sempre mais alguém na praia… Mas lembro-me que nos amávamo-nos até ao amanhecer.
E nós descíamos a escadas de pedra gasta, uma vezes tropeçando outras correndo, de mãos dadas (lembro-me que corria à tua frente e te puxava e tu gritavas e dizias que caías e eu abraçava-te com uma força excessiva e te dizia que nunca te deixaria cair!), pés descalços… tu te sandálias na mão, eu agarrando sapatos meias, gravatas, a toalha, por vezes o blazer… Às primeiras gotas de sal no rosto largávamos tudo pela areia e corríamos ainda mais, ao reencontro do azul escuro, do cheiro da areia molhada.
Tu molhavas os pés e chamavas-me para água que a medo eu deixava que me gelasse os ossos… Depois queixava-me do frio, rabujava e, sempre, sempre com essa mesma desculpa, pegava-te ao colo e levava-te para junto dos casacos, dos óculos escuros, das malas, das toalhas, da garrafa de vinho de meio litro e deitava-me contigo no intervalo que as dunas escondiam. Servia-te Monte Velho dos meus lábios e dizia que te amava mais que a vida.
E lembro-me que não fazíamos amor porque havia sempre mais alguém na praia… Mas lembro-me que nos amávamo-nos até ao amanhecer.
13 julho 2006
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